Maracanã

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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Anônima


Anônima

assim ela passa

sem nome, um rosto a mais

na multidão, lá vai, com seu passo apressado...

tem olhos que buscam o chão e o céu, passeiam...

seus olhos passeiam sobre as pessoas que a circundam...

ela passa e seus olhos passeiam..ela se vai...se perde...

mistura-se ao mundo, suas cores se diluem, seus pés se apagam,

seus braços se borram de tantos outros braços, sem afagos,circundam...

suas pernas se apressam, seu rosto se contrai em ânsias de ser compreendido...

terá ela um coração partido?será ela um ser de sentido bem vivido?

terá ela a dúvida do ato falho e surpreso?

que grito terá ela na garganta deixado preso?

quantas vezes terá sonhado com a luz do infinito?

ou terá se rendido à desilusão de descrer de tanto mito?

lá vai ela, passa, passeia, na passarela da avenida em trânsito

ela me faz emergir em transe, cada vez que sua testa franze,

seu semblante me indica preocupação, tensão, correria, difuso âmbito,

ela está nas ruas como está nos bares, nas noites, como nos dias,

ela é parte integrante da desintegração da espécie, é criatura passante,

é ávida de maratona, é pululante, pulsante, equilibra-se nos saltos, arfante...

assim, ela me perpassa os olhos, me deixa lembrança, ainda que expressa,

como o café com pressa, qualquer segundo cometa que me ultrapassa, lépido,

sou como seu espelho retrovisor, mal ela se vai, sua imagem some, em mim,

quase nada ficou, talvez um rastro de luz, talvez a saudade dela, o épico,

da sua passagem, trago assim, o lamento bobo de não saber seu nome, intrépido,

me disponho a nomeá-la , apelidá-la, chamá-la como se convida com um psiu,

pois ela já está distante agora, além de mim, quem mais será que a viu?


poesia de Aparecida Torneros

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