Maracanã

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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Antonia, das langeries...

Sufocada...foi como me senti...quando cheguei na associação de funcionários da empresa em que trabalho e procurei Antonia...ela, a companheira vendedora de langeries, amena, alegre, amigona, que nas vésperas da minha viagem aos EUA, me mostrara e vendera algumas peças sensuais, brincando todo o tempo o quanto eu poderia ser feliz usando tais artifícios bordados, coloridos, recortados, incrustrados de pedrinhas brilhantes e até, com desenhos tão impudicos, dignos de algumas noites de folguedos estritamente fantasiosos...
Mas, ela não estava...as colegas me olharam com certa angústia..pude ler nos seus olhos a notícia que desejavam não me dar... Eu queria contar pra ela que eu tinha adorado o conjunto azul celeste, rendado, que ele tinha me caído como uma luva, que eu me sentira poderosa, tipo estrela de cinema, quando o usara, nas bandas de Nova York...eu ia lhe mostrar fotos do lugar, rir com ela, participar minha felicidade pela chance que a vida acabava de me dar...nessa viagem tão cheia de encontros maravilhosos...o Vittorio, a minha prima Jeanne Marie e sua família, os museus de História Natural e Metropolitan, a cidade capital Washington, os túmulos do Pres. Kennedy e sua Jacqueline...mas...
Logo veio a notícia triste...Antonia tivera um aneurisma cerebral rompido, dias depois que eu viajara, tinha sido internada e operada, mas não resistiu...justo no momento em que eu perguntava por ela, estava marcada a missa de sétimo dia pela sua alma...alma bondosa, de mulher trabalhadora, mãe de dois rapazes, esposa que teve o marido ao seu lado, até o fim, no hospital, e que só tinha 50 anos de idade, vivendo entre nós com honestidade e sonhos que nos confidenciava...
Meu coração ficou apertado, chorei, lamentei não poder dizer a ela tudo que queria, e nem poder vê-la uma vez mais... confortaram-me as palavras das amigas em comum, sobre o fato de que ela se sobrevivesse, teria sequelas graves, paralisias, etc...
Confortou-me ainda mais, saber que não sofreu, estava anestesiada e fora do mundo... e que sua brincadeira de abrir um bordel para fornecer langeries sexys... será sempre lembrada, com risos, entre nós, no meio da saudade da sua imagem pacata, meiga e humana, de mulher que viveu com a dignidade de uma Antonia, cujo nome eu não cansava de repetir para ela , era bonito...
Ela que me disse que antes não gostava do seu nome, passou a gostar, desde que eu lembrei-a da Tonia Carrero...outra Antonia, como ela, com nome tão expressivo, tão lindo, tão sonoro...
Saudade dela, sim, um vazio na sala da Associação, a falta do seu sorriso e das suas langeries sexys, principalmente, do seu jeito de nos convencer a usar algo mais ousado ou mais colorido, talvez com bolinhas, ou com lacinhos, ou com aberturas insinuadoras, para aproveitar a vida, como ela tanto nos recomendou.
Antonia me deixou triste por ter partido assim, tão de repente... mas, na verdade, todas as vezes que eu usar suas langeries, como não lembrar do seu sorriso maroto, e do seu poder de persuasão, principalmente quando me convenceu a comprar determinada camisolinha que nem cobre o corpo direito, mas que brinca com a pele, enfeita as fantasias e me põe a voar nos sonhos da meia-noite. Obrigada, Antonia, pela sua passagem em nossas vidas!
Aparecida Torneros

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