Maracanã

Maracanã

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Eu não lhe prometi um mar de rosas... ( com desejos de felicidades a todos e todas!)



Um milhão de amigos: "vc bem sabe, eu não lhe prometi um mar de rosas..."



http://www.youtube.com/watch?v=hvpBQcrU9gk

Eu não lhe prometi um mar de rosas...

Rio 40 graus, acabo de almoçar com um amigo na Cadeg, em S. Cristóvão, bairro antigo, e ali, mercado popular, apinhado, gente ávida de comida boa e barata, distribuidores de frutas, flores, importados, gêneros alimentícios, lugar de gente simples, trabalhadora, misturada, nivelada pelo prazer de viver o dia a dia, com a mesmice mais gratificante.

Nas terças-feiras, eu combino, quando posso, vou com ele, comer a costelinha no vinho, uma maravilha das maravilhas, num dos pés sujos mais deliciosos do mercadão. Depois, uma passada para comprar um vinho chileno e um wiskhy importado, pela metade do preço dos supermercados da emproada zona sul, e voltamos ao batente, que fica perto, sorte nossa. Mas antes, pecado meu, como a tradicional dupla, goiabada com queijo, e me revigoro de amizade sincera, respeito mútuo, reclamo que o meu amigo anda muito calado, ele diz que gosta de me ouvir. Eu tagarelo, reconheço, conto dos mil e um afazeres profissionais, divido com ele as angústias comuns, da empresa e da vida. Ele me observa, sorri, fala dos planos com a família, mulher e filhos que cursam a faculdade. Somos pessoas comuns, cumpridoras dos deveres, colecionamos amigos, ele diz, que os tem de décadas, eu confirmo que o mesmo se dá comigo. Tenho amigos e amigas desde a infância e os conservo, os revisito na memória e quando é possível, promovo reencontros gratificantes, nem sei se chegarei ao milhão de amigos que o Roberto cantou, mas isso é o de menos, me pego cantarolando a canção velha de guerra, cansada de lamentar as distâncias entre amigos e infeliz proximidade de inimigos não declarados, como a solidão ou o desamor.

Aí, para fechar com chave de ouro nossa ida corrida para degustar as costelinhas divinas do pé sujo do mercadão, cruzamos com um operário puxando um dos muitos "burros sem rabo", carrocinhas cheias de frutas e legumes que ele conduz a algum carro de um comprador, transbordando as cores brasileiras, laranjas amarelas, bananas esverdeadas, verduras frescas, sacos de cebolas, tomates reluzentes, uvas, abacaxis, pêssegos, lá vai o homem forte e jovem, e de repente, solta a voz, enquanto sustenta o peso.

Ouço atenta, sua voz ecoa, forte, melodiosa, me traz do fundo do baú uma gravação que tento identificar quando ouvi, menina, deve ter sido, em versão interpretada pelo grupo Renato e seus Blue Caps...

Ele entoa: "você bem sabe, eu não lhe prometi um mar de rosas, nem sempre o sol brilha, também há dias em que a chuva cai"...eu comento com meu amigo, enquanto pegamos o carro de volta ao trabalho que aquele trabalhador cantador me fez refletir, mais uma vez, sobre a felicidade de viver...

Basta isso, um peso nas costas, deve ser a tal cruz de que tanto falam, a sensação de dever cumprido, e a voz solta cantarolando alguma canção que nos faça ter a certeza de que nem tudo é um mar de rosas, que há chuva entre um dia ensolarado e outro, mas que é preciso entender e aceitar, é importante estar unido com amigos e amigas, e ficar ao lado de quem pode saborear um almoço corrido, no meio da semana, num pé sujo do mercadão.

Só quero ter um milhão de amigos, mas não quero cantar sozinha, quero um coro de passarinhos, e assim mais forte poder cantar...
Aparecida Torneros

Nenhum comentário: