Maracanã

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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quinta-feira, meu amor!! ( postado na sexta)




















Lá fora está chovendo
Mas assim mesmo
Eu vou correndo
Só prá ver o meu amor
Ela vem toda de branco
Toda molhada
E despenteada
Que Maravilha
Que coisa linda
Que é o meu amor...(2x)

Por entre bancários
Automóveis
Ruas e avenidas
Milhões de buzinas
Tocando sem cessar...

Ela vem chegando de branco
Meiga, linda, pura
E muito tímida
Com a chuva molhando
Seu corpo
Que eu vou abraçar...

E a gente no meio da rua
Do mundo, no meio da chuva
A girar!
Que Maravilha!
A girar!
Que Maravilha!
A girar!
Que Maravilha!...
Toquinho

Quinta-feira, meu amor!!!
Este era o nome de um livro que li nos anos 80. Um desses exemplares de carregação, cuja história serve para embevecer e até emburrecer, digamos, a partir do sonho temperado a água com açúcar. Mas, lembro bem, lá pelos meus quase 30 anos, o efeito do texto foi arrebatador.
A mulher-personagem principal era casada, tinha uma família linda, marido certinho, filhos aprendizes de viver corretamente. Fotógrafa, estabelecera que todas as quintas-feiras sairia em busca de imagens em cidades não tão próximas, e esqueceria dos seus, só por um dia de todas as semanas. Acordo feito, lá ia aquela figura feminina a observar pessoas e lugares, prendê-las na sua câmera, sequestrando emoções nos rostos anônimos de seres que nem conhecia de verdade.
Depois, no resto da semana, era aproveitar o tempo entre os afazeres domésticos e revelar, à moda antiga, os filmes de um período que nem se sonhava com a tecnologia digital. Havia magia no processo químico da revelação. Na sala às escuras, o papel molhado, ia deixando transparecer um vulto primeiro indefinido e depois as formas se faziam intensas, lhe traziam de volta os instantes em que as captara.
Um dia, um rosto perdido na multidão de uma praça, apreciando a dança de um grupo de festivos adeptos do Hare Khrishna, se apresntou como um raio de luz no seu universo de pessoas colecionadas nos papéis fotográficos.
Ela passou a buscá-lo nas semanas seguintes. Voltou várias vezes, nas quintas-feiras àquela cidade. Era como procurar agulha no palheiro mas nada a faria desistir. Sentia que ele era alguém especial.
Claro que segundo os padrões melados do tal livro de cabeceira, romântico e sonhador, ela , de nome Ângela, encontrou o tal homem chamado Adão.
Por muitos anos, eles se encontraram todas as quintas-feiras, sem nada saber das suas vidas fora daqueles dias roubados no tempo. Aconteceram viagens de barco, almoços em lugares exóticos, jantares comemorativos, compras em bazares para os Natais que nunca passaram juntos, e trocas de presentes que carregavam consigo como troféus da vida paralela que tiveram por infinitas quintas-feiras.
Talvez, agora nem lembro mais o final do livro, tenham sido um casal perfeito. Nunca se cobraram as presenças de um no mundo do outro, porque tinham estabelecido assim. Era o seu amor da quinta-feira, este sim, o amor mais verdadeiro das suas vidas que transcorriam serenas e separadas, sem que ninguém desconfiasse, e nem era importante pensar nisso, porque todos nós temos direito a uma viagem de sonho, num dia qualquer, para encontrar um rosto na multidão e transformá-lo em companheiro para viver nosso sonho.
Se hoje é quinta-feira, não titubeio, saio logo sem me prender aos parâmetros pré-estabelecidos e ensaio uma olhada geral para todos os lados que meus olhos alcancem. Procuro o Adão, mas sei que já não há grupos de jovens a dançar e cantar canções indianas à minha volta.
Também, por mais que me esforce, não sou mais a Ângela-personagem do livro velho, e , para completar, comprei uma máquina fotográfica digital, que acabou de vez com a possibilidade mágica de revelar um rosto desconhecido na penumbra de um estúdio que não existe mais.
Aparecida Torneros

Um comentário:

Victoria disse...

Cariño y amor siempre vá unido a un grán corazón,gracias por tu sonrisa y compartir este bello blog.Con cariño Victoria