Maracanã

Maracanã

sábado, 31 de outubro de 2009

Quase morena...e Fugi da mulher morena 

Ela veio até mim...


me enfrentou...me fez rir e chorar...


a mulher morena na pele e voz da Piaf...


a mulher morena nos meus cabelos repintados...


a mulher morena que dançou na noite, que se sacudiu...


a que eu resgatei para me divertir, reviver a mocidade...


Ela me chegou de vestido florido...parecia a primavera...


mas eu sei que vivo o outono...não me importa muito isso...


consegui manifestá-la em volteios e rodadas... alimentei-a...


Ela me surpreendeu com ganas de compensar-se e amar...


A mulher morena está em mim, quer queira ou não queira...


tem olhos de mel, boca de baton vermelho, volteia as pernas


eleva os braços, cantarola, rebola, cola como grude em mim


tem jeito de fada, musa, deusa, bruxa, bailaora de seguidilha


é a vida que se reconstrói todas as vezes que é preciso ...



Ela me adentrou como um vulcão em teste de maturidade


compreendi, mais uma vez, o seu (meu) papel, no mundo


no meu, no nosso, nos mundos que ainda não pisei...



E nem questionei mais...deixei-a comer, deixei-a beber,


deixei-a dançar, deixei-a escapar nos instintos, soltei-a...



Tinha a influência da Piaf, é verdade, aquela que viveu


como pássaro amante da vida e com voz e sentimento,


como a dela, a minha mulher quase morena, é alento...


Quando ela me vem, assim, só posso acalentá-la, só isso...


Aparecida Torneros






Fugi da mulher morena....


> Fugi dela


> que habita em mim


> que bela


> como baila e encanta


> como dança e canta...


>


> Mas fugi,


> ao não respondi com sim


> e troquei a cor dos cabelos dela


> os tornei "rúbios", amarelei


> percebi que era melhor pra ela


> não ser tão morena e doce


> não ser tão sincera e singela


> não ser tão amena e transparente...


>


> Em seu lugar, coloquei a loirice


> de uma cigana andarilha e arfante,


> pus no seu dorso sensual meiguice,


> revesti-a de luzes penumbrosas,


> untei-a em óleos de flores perfumosas,


> cuidei para que do seu colo brotem rosas,


> e nela fiz um jardim de ilusões,


> plantei sonhos de meninos vários,


> teci delicados relicários


> em forma de corações e de porta-jóias,


> escondi-a dos olhares de pintores,


> não permitirei nunca mais que nela os amores


> se aprofundem ou se lhe façam chorar...


>


> Fugi da mulher morena porque ela serviu-se de mim


> para usar nova máscara de viver e de amar...


>


> Agora, quando ela tenta ouvir novamente um sim,


> apenas lhe digo que não, que não a quero mais


> nem dentro e nem fora de mim...


>


> Quero-a na saudade, na juventude longínqua,


> quero-a na idade da meninice ou da mocidade,


> quero-a somente na lembrança quase escassa,


> de um anjo que já perdeu cada asa, e que me faça


> um único bem, por ter mudado a face, ter se transformado...


>


> Agora, no lugar daquela mulher morena linda


> trago um coração partido, embranquecido,


> onde começa a frigidez e o calor se finda...


>


> Tudo sem muito drama ou lamento, em lugar dela


> trago comigo a nova mulher em que me tornei...


> Sou aquela, sou esta, sou a alma dela na pele de outra...


> Aparecida Torneros

>

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