Maracanã

Maracanã

terça-feira, 2 de março de 2010

Alguns poemas de Cida Torneros

alguns poemas de Aparecida Torneros



Maria Aparecida Torneros da Silva é carioca, jornalista e poeta. Tem 60 anos, escreve artigos para jornais e sites. Trabalha em assessoria de imprensa no Rio de Janeiro, nas áreas de meio ambiente e obras públicas, é professora universitária e mãe do prof. Leandro Vieira. Exercendo a profissão há 40 anos, foi correspondente no Japão nos anos 70, na antiga revista O Cruzeiro. Em 2008 publicou A Mulher Necessária, livro que reúne mais de 100 artigos e crônicas. Tem mais de 400 poemas escritos e pretende publicá-los brevemente. Mora na Vila Isabel, Rio de Janeiro.



Natureza



Meu caminho é teu, não sabes, não crês?


Meu carinho é ainda teu, não vês?


Meu sonho é para ti, não percebes?


Meu poema é por ti, não o renegues...






A natureza me fez mulher como as éguas do prado...


E me deu cheiros e sabores estranhos, um fardo,


que carrego com hormônios de semear a terra,


que desdobro em gozos de conceber os frutos,


que acoberto com cada braço que encerra


um recomeço de dia, um alvorecer...






Meu momento de luz é teu, meu sol, minha luz...


Meu tormento é por ti, minha lua, que me induz...


Meu talento é pra ti, doce estrela da manhã,


quando te traio com os pássaros e a eles dou maçã...






A natureza te fez macho para meus deleites e desejos,


mas te deu asas de anjo em corpo de lobo, te deu vôos,


fez de ti um planador alado e risonho, te fez tão alto,


inalcançável até, em tantas vezes nas noites, te assalto,


te roubo a paz, te dou angústias em troca da distância..






Meu caminhar é costurado em atalhos que talho em ânsia


a adorar os campos, cobrir-me de folhas, molhar-me de chuva,


a dançar com pés na terra, agarrar-me às arvores da uva...






Minha estrada é pontilhada de brilhos quando piso a nuvem,


meu corpo é inundado de prazer quando sinto tua penugem,


meus dedos são pequenos e iluminados quando te tocam a alma






Natureza... tu me és o esplender dos deuses...


e se te tenho, nem preciso morrer porque vivo em ti


e transmuto matéria em essência, amor em eternidade calma...






Já não me perturba o fim... ele é apenas transformação


de gente em pó... de pó em gente...






Natureza... tu me invades a gruta da nascente lúdica..


e deixa brotar as águas translúcidas da verdadeira emoção..






Te chegas mais e de ti sinto o conforto pleno e doce,


pelo quanto foi justo ter amado tanto como se eu fosse


capaz de guardar o mundo, de me fazer oferenda e prenda...






Na cerimônia da floresta, só me resta, eu sei,


doar-me ao infinito sentido da natureza em festa...


E , quando as feiticeiras, em sábado feliz , se encontram,


suas vozes entoam o cântico perfeito, elas apontam,


mais caminhos, mais atalhos, mais estradas, mais trilhas,


por onde vamos, nos deixamos ir, por milhas e milhas...






Natureza,


não vês que sigo, não vês que flutuo, não vês que mudo?



Aparecida Torneros



Tsunami ( a sós)


antes da grande onda

por favor, me ame a mim

ame a humanidade toda

ame a mulher songa-monga

a criança down, o velho coxo

o pedinte sujo e o pivete esperto

ame o inimigo tolo, o macaco rhesus,

a flor entreaberta, a porta fechada

dos corações endurecidos,

antes da grande onda

por favor, me beije assim

como se fosse próximo o fim

do nosso amor e dos tempos

e se compadeça do ser humano

do pobre bicho pensante e ignorante...

antes que a água nos invada

me inunde de paixão acesa

me resplandeça

sim, me aqueça

me enterneça

e jamais se esqueça

que haverá um dia

em que a terra-mãe

acolherá nossos restos de paixão...

antes dos tsunamis

invoque os bhamas, os deuses, os avatares,

peça perdão pelos desvalidos seu desvios

seus erros de avaliação, pelas bombas atômicas

pelas criaturas atônitas

convoque a onu, dos homens nus, dos sem destino,

e entoe pra mim, um lindo hino

de paz na terra, em meio ao luto, distribua afeto

pelos desconhecidos, pelos nossos mares revoltos...

antes da grande onda,

por favor, me diga onde está seu abraço,

onde posso apaziguar meu corpo no seu cansaço

de ser quem sou, um nada a mais, uma gioconda

sem sorriso, talvez uma alma sem corpo...

mesmo assim, querido , um último pedido lhe faço:

venha para mim, antes da onda gigante,

e me faça morrer no seu calor como uma flor...

me deixe sucumbir na sua dor como um final feliz...

me veja conformar o povo do mundo com a doçura da meretriz

e não me abandone ao tsunami feroz

sem antes me sussurrar que me quer um bem abstrato

um bem sem medidas, um bem além de nós

um bem super-humano, um bem capaz de engolir o fato

de ser quem sou, pequena e frágil, se estou assim:

como meus irmãos da Ásia : a sós...

Aparecida Torneros

Nenhum comentário: