Maracanã

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segunda-feira, 26 de abril de 2010

"O enigma: ele é muitos"

O poema que intitulei "O enigma: ele é muitos", escrevi em 2001.



Inspirei-me em muitos homens que conheci pela vida, tanto pessoalmente, como através de caricaturas dos machos de novelas, de política, de noticiários, pelos quais, confesso, de certo modo, e à minha maneira, andei me apaixonando.


Sim, uma saudável paixão, comedida e lúcida, pela multifacetada alma humana que cada homem traz dentro de si e pela vida vai se permitindo viver ou tornar público esse emaranhado de sentires abstratos.



Isso sempre me fascinou. Ademais, porque também me considero "muitas", lido com heterônimos, apelidos, tenho ares de "camaleoa ibérica", como me chamava sempre um grande amigo. Ora sou a morena que nasci, ora fico loura e me divirto com a metamorfose. De tempos em tempos, sou como arroz de festa, estou em todas, e de repente, como outra amiga me define, me fecho tal qual a ostra dourando a pérola, e sumo do mapa, não atendendo nem o telefone. 

Sou muitas ( escrevi um poema sobre isso que está  publicado   no site do Jornal da Poesia).


Sei  que sou uma sedutora: em tempo! Fiz muita psicanálise e procuro aceitar esse lado meu, que é forte embora eu procure domá-lo com as amarras da sensatez.


Aí vai o poema :







O enigma: ele é muitos

Há momentos em que seres invadem teu coração,



Tu te perguntas quem são estas criaturas,



Te indagas de A a Z o que eles sentem,



O que eles te trazem para trocar emoção,



Ou para te fazer aprender o quanto mentem,

Ou para ti ou para si mesmos, nas fissuras,



Nos apertos, nos limites de cada indagação...



Há momentos sutis que unem e que separam



Mas que te fazem crer na certeza das posturas



De seres inteira, amiga, compreensiva e doce...

Te cutucam os enigmas destes meninões


E tu te surpreendes mais próxima que fosse,

 poderias ser muito mais que sermões,


Poderias ser o abraço infinito, o alcance,


E te expões em dádivas, compreensões,


E te ofereces em preces, em cada lance...

Porque há homens que se reúnem num só deles,


E se emaranham em buscas intensas, em jogos...


Te levam aos mais incríveis lugares, afagos,


Te fazem viver verdadeira queima de fogos...

Quando, nestes momentos, descobres os magos,


Os bruxos, os feiticeiros, os inteligentes,


Te rendes aos seus jeitos, trejeitos, artifícios...


E te defendes, atacando, por seres frágil,


Embora resolvida, embora amante, embora ágil...


Há momentos que só queres que eles te abracem


E de ti persigam o calor que do teu corpo emana...

E que concluam o quanto o queres todos,

Dentro de ti, pra sempre, como se te amassem...


Eles se reúnem, e se mostram num ser sozinho,

Um Homem único integrando tantos, um ser perfeito,


Para que tu o respeites, o realizes, o acalmes...


Há momentos em que preciso garra e força,


 preciso estares atenta e te tomares jeito


e aceitar que te comande este Homenzinho...


Que parece pequeno quando tu o acolhes no peito...


Mas, em contrapartida, Ele te torna densa,


Te torna tensa, te desafia, te mostra um caminho


De amar sem freios, de perdoar seu defeito...


 O maior deles, o medo da entrega total,


O mesmo medo que precisas demonstrar para Ele...


Enigma, devora-me, Homem do meu carinho,


Devora-me nesta noite, estou prudente,


Estou carente, estou solitária, estou temente,


Não te quero magoar, só te quero amar...


Há momentos em que as palavras nada valem,






Porque é preciso tocar com mãos e bocas,






É necessário doar-se em corpos colados,






É urgente superar a saudade dele,






É premente demonstrar sua importância






Na tua vida, no teu destino, na tua distância...






Há momentos que te fazem suspeitar da ânsia,






Da angústia de não ter dele a voz e o laço






Do corpo amado, do sexo delicioso, um maço






De pequenos gestos somados que te embalem,






Para que teus gritos de gozo nunca se calem...

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