Maracanã

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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Não me deixes escapar...

Não me deixes escapar...

Pensei muito nos últimos dias como a vida é labirintosa, cheia de escapes, escotilhas, saídas de emergência, lugares ou rotas de fuga, principalmente dos chamados sentimentos profundos.

As tais doenças psicossomáticas, as traições do inconsciente que nos impelem a deixar para trás aquilo que nem sabemos como seria, de verdade...o tal medo de viver a nova experiência, de se deixar dominar pelo sentimento de entrega ou pela mudança de hábitos, vida, cultura, como se a acomodação fosse mesmo a receita salutar para uma vidinha comum, controlável e bem programada...

Foi pensando nisso que respondi ao novo cardiologista sobre o que tinha feito da minha vida nos meus 62 anos...respondi..."devia ter dançado e ao invés disso, trabalhei, estudei..." falei em dançar, pela expressão de insólito devaneio que os movimentos do corpo aliados ao som da canção podem proporcionar o necessário equilíbrio entre físico e mente, um compasso especialmente saudável para não desenvolver doenças do coração, do estress, da oscilação arterial, dos males "fabricados" pelas denominadas pragas auto-imunes...

Se a gente segue a vida inteira protelando recomeçar vida saudável, boa alimentação, bom sono, bons amores, boa qualidade de paz ou de busca dela, na verdade, em algum momento, quando a chance se faz presente, é preciso ser humilde o bastante e pedir que não nos deixem escapar... é o mínimo que podemos fazer por nós mesmos, buscar ajuda para a necessária coragem de enfrentar novos desafios, mudar atitudes, amar com entrega e sem medo, buscar novos trabalhos, trocar de atividades, movimentar pernas e braços, exercitar a cabeça, refletir sobre cores, flores, estrelas, pesquisas, números, tudo ao seu devido tempo e com a docilidade da eterna criança curiosa...sem correr para a primeira porta que nos livre daquela sensação de chão afundado... ou flutuante...

Pensei muito, sigo pensando, por que não danço? por que me canso? Por que me entristeço? porque me abasteço de passado?

Sei porque...sei mesmo... por ser cômodo, por ser previsível, por ser extremamente protetor de mim mesma, não correr maiores riscos a esta altura do campeonato? O que fazer nos próximos 26 anos?

Devo ser humilde e pedir: não me deixes escapar...

Quando perceberes em mim o menor movimento de quem sorrateiramente arranja subterfúgios para sumir da tua vida, puxa-me, prende-me, agarra-me, convence-me, persuade-me, e faz-me atrever a enfrentar novos caminhos, quaisquer que sejam eles, enquanto o tempo me dá chance de estar contigo, por favor, repreende-me, cria laços nos meus passos, encanta-me com tuas histórias, faz-me rir, dá-me sorrisos e abraços, acalenta-me, amaina minha ansiedade, festeja meus olhares ainda infantis e me torna tua grande companheira de viagem.

Vamos escalar montanhas, por que não? vamos descobrir estradas e atalhos juntos... vamos nos oferecer oportunidades, recomecemos, juntos, mas, não te esqueças... tentarei escapar, muitas vezes... é uma infeliz predisposição...tu, sim , a ti cabe a tarefa de estares atento, e por favor, não me deixes escapar, nem pelas janelas, nem pelos sonhos, nem pelas nuances de vagos e insensatos pensamentos...

Acata-me assim, junto a ti, aos teus desejos e medos, quero dividir os meus contigo, quero tentar ainda algo inusitado e novo, algo que a vida nos acena e ilumina com luzes faiscantes...tenhamos coragem... prometo, que também não te deixarei escapar de mim...
nos próximos 26...pelo menos...

Cida Torneros , em 3 de abril de 2012

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