Maracanã

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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Santa semana: as cruzes de JD e JB e os Profetas do Aleijadinho










Cruzei com JD no caminho, por muitas vezes. Com JB, tenho cruzado na observação e no pensamento. Um é José,  o outro, Joaquim. Ambos são mineiros, alcançaram o poder, de modos diversos, viraram manchete na história do Brasil, fazem a diferença na vida dos brasileiros, nos últimos anos, de modo passional, até.  Carregam, evidentemente, suas cruzes pessoais.  Nem há como negar o fardo de suas costas, os jogos políticos,  as interpretações legais, o domínio dos fatos, a turba que liberta Barrabás e condena Cristo, a paixão vivida num cárcere,  a angústia de ser alguém exemplar para combater o bom combate contra a corrupção e, ao mesmo tempo, as manobras jurídicas que justificam até a própria injustiça.  Pode ser que a madura articulista esteja redondamente enganada pela pseudo transparência da mídia manipulada, interesseira, eleitoreira, etc.

Mas, o que me incita, neste momento, em que iniciei minhas orações pessoais pela simbologia da Santa Semana, é,  precipuamente, a sensação desconfortável de perceber que muitos Pilatos se repetem por aí,  lavando as mãos. José vive as agruras da prisão,  Joaquim vive a manutenção da imagem de homem justo.

Joaquim Barbosa está na berlinda, ao que parece, gosta de estar, tem, em suas mãos,  ainda, muitas folhas e processos para ler, analisar,  julgar, decidir, encaminhar, prolongando sua exposição no palco que o estrelato da Presidência do Supremo Tribu al lhe confere. Longe de mim, imaginá-lo um algoz ou mesmo um herói,  só posso olhá-lo como um fiel cumpridor das leis vigentes, um guardião da decência,  um cidadão do bem. Reconheço o peso da sua cruz.

Quanto ao José Dirceu, com quem mantenho serena amizade que me confere preocupações com sua saúde fisica e mental, não sou pessoa apta a julgá-lo e nem poderia, nem deveria, nem o faria, em hipótese alguma, apenas, sempre irei me solidarizar com sua luta, a trajetória de uma vida política que o conduziu a colecionar muitos desafetos, e, o privilegiou com uma disciplina espartana,  no que tange à adesão aos preceitos ideológicos ou políticos.  Cruz pesada, evidentemente, carregada com dores e paixão.

Hoje, quando se aproxima o dia da crucificação,  que os cristãos rememoram, penso em ambos, que eles me desculpem, mas, com muita compaixão.  Lembro que há anos atrás,  numa troca de mensagens, avisei ao ZD que ia rezar com meu pai em Aparecida do Norte, pois o velhinho estava com seus 85 e me pediu que o levasse lá,  onde queria peregrinar aina uma vez, antes de deixar nosso mundo.  O Zé me respondeu pedindo que rezasse por ele, lembrando que tinha uma foto, ainda de calças curtas, na cidade da padroeira do Brasil, onde ia quando menino, levado por um tio católico.

Oro sempre por muitas criaturas. Tenho este hábito e não me importo com o que possam dizer a respeito. É coisa de foro íntimo.  Entro no metrô,  escolho alguém,  ponho-me nas suas costas, faço uma prece, nem sei quem é,  nem sei seu nome, nem guardo suas feições,  mas rezei por quem nunca saberá disso. Coisa de cigana, acho, minha avó dizia que o povo cigano costuma bendizer os seres e pedir a Deus por todos.

Tenho um filho ateu, rezo muito por ele e o respeito. Estamos na Semana dita Santa. O mundo está conturbado. Cristãos buscam salvar suas almas. Meu amigo mulçumano já me escreveu hoje, em nome de Alah, saudando nosso encontro nesta Terra. Quem sou eu para questionar qualquer crença ou descrença?
O símbolo do mártir crucificado e perseguido, humilhado, desprezado, negado, pisado, cuspido e depreciado será sempre a imagem da humanidade injusta e egoísta,  dos opressores que tripudiam oprimidos e dos corações partidos que perdoam, amam, incondicionalmente, sobrevivem e ressuscitam das trevas.
Dizem as escrituras sagradas que sobem aos céus,  em carne, encarnam a bem aventurança.

Gosto de relembrar uma promessa de Jesus, na cruz, a um dos ladrões, que creu no encontro com o Mestre no Paraíso.

Foi o bom ou o mau ladrão?  Não estou certa.

Cada um de nós carrega sua cruz, Joaquim e José,  também.  Um dia, quem saberá,  se encontrarão no Paraíso.  Conversa de carola? Talvez. Mas que há luz na boa vontade, disso não tenho dúvida,  e, haverá ainda muitas verdades brotando na história da República brasileira,  a terra de Santa Cruz, um berço esplêndido de procissões na Semana Santa, principalmente nas Minas Gerais, lugar de fé,  de esperança,  de Tiradentes e de Aleijadinho.

Das cruzes que vi na vida, as que mais me impressionaram, foram esculpidas por Aleijadinho. Estão na Via Sacra, espalhadas em capelinhas na subida da igreja em Congonhas do Campo, onde os Profetas imponentes guardam  os segredos do calvário de todos nós!

Cida Torneros

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